As atividades começam e, rápido, os braços disputam espaço ao alto para ver quem será o próximo a falar. A gurizada se entusiasma a cada novo encontro do projeto Educando Direito: Uma Lição de Cidadania. Uma vez por semana, os alunos do 3º ano da Escola Estadual Doutor José Mariano de Freitas Beck, na vila São João, em Rio Grande, recebem um convite especial à reflexão: como podem contribuir na construção de um mundo melhor?

Em busca dessas muitas respostas, a gurizada transita por vários temas. Respeito às diferenças, inclusão, consumo consciente, proteção ao meio ambiente, trânsito seguro, não à violência doméstica, valorização dos idosos, cuidados com o uso da internet... São assuntos que não se esgotam. E, claro, não se limitam à sala de aula. Aos poucos, os estudantes levam o aprendizado a familiares e amigos e, mesmo sem planejar, multiplicam a mensagem de uma conduta que leve em conta o bem comum.

"A gente tem que respeitar as regras de trânsito, senão todo mundo pecha", destaca Nicole Vasconcellos, de nove anos. "O meu vô é velho, mas eu não chamo ele de velho. Eu chamo ele de vô", conta Talysson Feijó Cunha, de oito anos. "Algumas pessoas não têm braço. Outras não têm pernas", acrescenta Vítor Machado Gama, de oito anos. "Minha mãe comprou uma bola. Aí ela ficou murcha, a gente foi ver e tava rasgada do lado. Aí a gente trocou", lembra João Mateus Cardoso, de nove anos, em referência a direitos do consumidor.

As frases disparadas quando o Diário Popular foi conhecer o projeto, são uma pequena mostra do tanto que os pequenos têm interagido com a chegada de cada nova lição.

Diferentes ferramentas para atrair a criançada
Ao dar início ao projeto em 2016, a advogada Katiucia Quaresma Braga, 43, não tinha ideia do alcance. Pela segunda vez, a rio-grandina é indicada ao Prêmio Nacional Innovare. Um consultor da premiação de 2018, inclusive, já esteve na escola para conhecer de perto a iniciativa.

E foi alicerçada sobre o artigo 5° da Constituição Federal - de que todos são iguais perante a lei - que surgiu a ideia de desenvolver o projeto. Todo voluntário. "A finalidade não é transferir aos alunos a letra da lei, mas introduzir noções básicas de direitos e de deveres", explica.

Em linguagem simples, bem distante do "juridiquês", Katiucia elaborou material próprio para trabalhar com a criançada. Personagens como Menino Maluquinho e Turma da Mônica ajudam na condução das mensagens. Leitura de histórias e poemas, músicas, figuras para colorir, jogos de memória e de dominó e exibição de vídeos, desenhos e clipes são alguns dos recursos utilizados para tornar o recado mais leve e atrair o interesse da gurizada.

Por exemplo, o desenho Up, Altas aventuras e o clipe da música Paciência, do cantor e compositor Lenine, foram algumas das ferramentas para fomentar o debate sobre o Estatuto do Idoso e a importância de se respeitar e valorizar os mais velhos; sinônimo de sabedoria.

Planos para 2019
A intenção é de que o Educando Direito: Uma Lição de Cidadania possa chegar a outros estudantes a partir de 2019. Não apenas aos alunos do 3º Ano da Escola Estadual Doutor José Mariano de Freitas Beck - o Ciep -, que contam com atividades em turno integral.

Conversações com a prefeitura e, possivelmente, com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) poderão garantir a expansão do trabalho. É a expectativa, para que o olhar sobre a infância, na construção de um mundo novo, possa também ser valorizado.

Conheça o Prêmio
O Innovare tem como objetivo identificar, divulgar e difundir práticas que contribuam para o aprimoramento da Justiça no Brasil. Participam da comissão julgadora ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), desembargadores, promotores, juízes, defensores, advogados e outros profissionais de destaque interessados em contribuir para o desenvolvimento do Poder Judiciário. Desde 2004, já passaram pela comissão mais de cinco mil práticas, vindas de todos os estados do país.